sexta-feira, 26 de março de 2010

O que é o amor pleno?

Hoje 25/03/2010, tive que fazer a escolha mais dificil e mais nobre da minha vida!
Hoje25/03/2010 morre minha fiel amiga e companheira de uma vida toda.
Hoje 25/03/2010 morre minha Nega.

Mas eu não vou falar de como é triste, de como doi, da imensa saudade e do silencio que fica. Hoje 25/03/2010, vou falar de amor! Isso mesmo! Não o amor entre um homem e uma mulher, porque esse é contaminado, cheio de interesses próprios, de insegurança e de infidelidade. Nem vou falar do amor pai/mãe p/ filho ou vice e versa, porque esse é biologico, é natural, completamente normal. Vou falar do amor que um cão sente pelo seu dono, aliás, especificamente do amor da minha Nega por nós. Esse amor foi à primeira vista, quando encontramos aquelas duas bolinhas de pelo no lixo, uma branca e outra preta, ficamos com a branca. E qual será o nome? Nega! A Nega viveu 15 anos ao nosso lado, e eu nunca deixei de ver amor nela. OK! muitos vão dizer: Há é só um cachorro! Sim, é mesmo só uma cachorra. Mas eu não encontrei nenhum ser humano capaz de me amar com tamanha intensidade. Se eu fechar os olhos ainda ouço ela latindo alegre ao me ver chegando. Se eu fosse só até a esquina e voltasse era recebida por uma cachorra tremendo de felicidade e latindo muito. Perdi as contas de quantas vezes sentei na porta de entrada com o coração partido, e ela sempre estava lá lambendo minhas lágrimas. Também nunca comi um pão inteiro, milhares de vezes passei horas assistindo TV com uma cachorra esquentando meus pés, e quantas vezes adormecemos juntas. Enquanto isso amigos iam e vinham, os namorados também e só ela permanecia. Olhando para traz, ela foi a única constante na minha vida. Mudei a cor do cabelo, mudei de amigos, de estilo de vida, mudei e casa e de cachorra nuna mudei. Mas voltando ao assunto, sabe o que mais eu sei do amor? Ele nunca morre. NUNCA !!! Hoje 25/03/2010 minha Nega foi embora, nos separamos brevemente, mas o nosso amor ainda está aqui, e quando chegar minha vez de ir embora, serei recebida por uma cachorra, e vou sentir que fui apenas até a esquina!

*Nega, eutanasiada em 25/03/2010.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Caro amigo Érico
Se eu soubesse escrever teria deixado uma carta para você. Uma carta que poderia ter sido entregue quando você ficou agachado ao meu lado, passando a mão pela minha cabeça e olhando para meus olhos sem dizer nenhuma palavra.Naquele momento eu entendi, olhando nos seus olhos, que você estava morrendo de pena de mim. Pena porque você achava que eu estava sentindo muitas dores e porque nós dois sabíamos que estávamos prestes a uma separação definitiva. Então, na força dos nossos olhares eu passei tudo isso que você escreveu.Amigo, confesso a você que nos dias que antecederam a minha viagem para outros campos, eu fiz uma reconstituição dos dez anos que vivemos juntos. Comecei pelo dia em que você foi me escolher, lá onde eu estava com o resto dos meus irmãos. Logo de cara eu simpatizei com você. Pelo meu instinto, achei que você era o tipo de pessoa que podia confiar. Comecei a fazer um monte de traquinagens. Passei por cima dos meus irmãos, pulei no sofá onde você estava sentado e subi no seu colo. Lembro-me de você dizendo: pronto, ele me escolheu! E aí já saímos juntos. Fui em seu carro no colo da Virginia sua mulher.Chegamos à casa que você morava e então você me apresentou uma coisa redonda e gostosa de morder e que foi a minha paixão número um para o resto da vida e você chamava-a de bola. Naquele dia mesmo você me deu um nome. No inicio eu confesso que não gostei dele, depois fui me acostumando e você foi também explicando para os outros e, acabei gostando.Quando eu achei que aquela casa seria minha, vi você e Virginia arrumando as malas e aí viajamos. Viemos morar numa casa na fazenda. Nossa! Quando eu vi aquela imensidão toda pensei: vou viver correndo e mergulhando naquela represa.Puro engano o meu. Você não deixava, ficava com medo de uma cobra me morder. Mas, assim mesmo eu fugi algumas vezes e aproveitei. E nunca vi nenhuma cobra.Eu tinha a varanda, a piscina e o jardim da casa só para mim. Quando fazia calor eu entrava na piscina e me refrescava. Você fez degraus para que eu entrasse e pudesse sair dela. Eu adorava nadar, não podia ver ninguém dentro que eu queria entrar. Algumas vezes tomamos banhos juntos.Eu dormia na varanda, você mandou fazer uma casa para mim, mas eu preferia ficar deitado na cerâmica fria. Dali eu avistava o portão de entrada da fazenda e avisava quando alguém chegava. Adorava pegar o vento que vinha de todos os lados, o que tornava a varanda o lugar mais ventilado da casa.Em noites de lua cheia, quando o céu ficava bordado de estrelas, uma claridade dourada iluminava a fazenda. A lua parecia jogar sua luz nas águas da represa transformando-a num grande espelho. Nas noites assim era certo você sentar na varanda e ficar em silêncio olhando. Algumas vezes você falou que na luz do luar eu ficava mais dourado.Naquela varanda vi você rindo e, muitas vezes vi lágrimas em seu rosto. Vi você chorando me chamar e ficar fazendo carinho em mim. Vi você soluçar de dor sem saber o que estava acontecendo. Vi você perder noites de sono e ficar caminhando sozinho na varanda. Vi você escutar seus discos do Sinatra e outros com cantores italianos. Vi você escrevendo e vi seu rosto se alegrar quando eu subia no seu colo ao trazer uma bola de tênis toda babada. Puxa! Eu adorava quando você jogava uma bolinha de tênis para mim. Gostava quando você me dava água de coco e também quando me fazia correr atrás da água da mangueira de molhar as plantas.Ali ao seu lado, eu gostava de ficar na churrasqueira, principalmente em dias de um bom churrasco. Eu ficava por ali zanzando no meio das pessoas e todas me davam bons pedaços de carne.Um belo dia você voltou de viagem e trouxe Liza. Ela era linda e eu logo me apaixonei por ela. Formamos uma família e nasceu a nossa única filha, a Mel.Algum tempo depois umas pessoas fizeram uma obra na varanda. Fecharam de vidro. Eu, Liza e Mel passamos a viver mais no jardim e na churrasqueira. Por causa dos meus banhos na piscina fiquei com otite. Você mandou cercar a piscina. Banhos agora só de mangueira.A idade chegou, dez anos passaram ligeiros e os janeiros começaram a pesar. E começaram a pesar para nós três, eu, você e Virginia. Um dia você veio falar comigo e eu notei sua tristeza. Você fez um carinho na minha cabeça e não falou nada. Aí sumiu e fiquei sabendo que você estava no Rio de Janeiro, levou Virginia para uma cirurgia e foi fazer alguns exames. Voltou meses depois, já mais alegre, mas não como era antes. Alguma coisa tinha mudado em você.O mês de novembro chegou e apareceu uma verruga embaixo do meu pescoço. Vi a sua cara de preocupação com as coisas que a veterinária falava para você. Tomei todas aquelas injeções que ela receitou depois de tirar a verruga. Vi sua cara de tristeza quando você chegava perto de mim. Comecei a ficar muito magro. Perdi a vontade de comer. Só queria ficar deitado.O mês de dezembro que sempre foi um mês alegre por causa do seu aniversário e dos preparativos para o Natal, dessa vez foi o mês mais triste para você. Eu não queria que isso fosse motivo de tristeza para você. Afinal de contas você não imagina o quanto eu fui feliz ao seu lado. Pense nos momentos de alegria que passamos juntos. Afinal, eu fui seu filho e de Virginia por dez anos. Nos momentos em que vocês sentiam saudades dos filhos que estavam longe, era comigo que vocês trocavam carinhos e por instantes a saudade partia.Amigo deixo umas bolinhas de tênis mastigadas para o próximo amigo que você terá. Espero que ele seja parecido comigo. Que ele seja meigo e carinhoso como eu fui com você. Que não pegue os passarinhos e nem ligue para os sapos. Que goste de pão como eu gostei. Que trate bem a Liza e a Mel.Érico me desculpe ter dormido para sempre num dia antes do seu aniversário. Não era mais possível adiar o seu sofrimento. Gostaria que você soubesse que eu sempre estive ao seu lado e quando nos dias de lua cheia você estiver na varanda, basta ficar em silêncio e fechar os olhos, assim você vai escutar um latido e me sentir por perto.
Do eterno amigo Kookie.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Amor e Sexo


AMOR É PROSA, SEXO É POESIA

Sexo e amor. Perguntando a amigos e amigas. Ninguém sabe direito. As duas categorias trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”. Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta. Assim sendo, meto aqui minhas próprias colheres nesta sopa.O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrrário não acontece. Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. sexo é posse. Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mas sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. Seco, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.Não somos vítimas do amor, só do sexo. “O sexo é uma selva de epiléticos” ou “O amor, se não for eterno, não era amor” (Nelson Rodrigues). O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge. O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: “Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens. O mercado programa nossas fantasias.Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO” PARA INICIAR. O amor está virando um “hors-d’oeuvre” para o sexo. O amor busca uma certa “grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR. O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust). O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda (ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta). E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não; sei lá... e-mails de quem souber para o autor.Arnaldo Jabor